A proporção de mulheres que optam por engravidar mais tarde na vida aumentou no Brasil ao longo das décadas. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2021, mostrou que em uma década houve um aumento de 63% na faixa etária de 35 a 39 anos, enquanto a taxa de nascimentos entre mães com até 19 anos caiu 23% no mesmo período.
“Os dados nos mostram que as mulheres vêm adiando a maternidade porque a proporção de mães que tiveram filhos na faixa dos 20 anos ou menos vem caindo gradativamente. A mulher também vem se casando mais tarde, o que colabora para o crescimento da taxa de fecundidade em mulheres após os 30 anos de idade”, explica a gerente de pesquisa do IBGE, Klivia Oliveira, em comunicado.
Um comparativo feito pela Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), com base em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de
Saúde (DataSUS), apontou um cenário semelhante. De acordo com o levantamento, o
número de bebês nascidos de mulheres a partir dos 35 anos foi apenas de 9,1% em
2000. Enquanto, em 2020, o número de mulheres que engravidaram com 35 anos ou
mais foi de 16,5% do total de mães que tiveram filhos naquele ano.
“O principal fator é objetivo profissional da mulher.
Antes de ter filho, ela quer completar sua formação acadêmica, alcançar sua
meta profissional e buscar uma estabilidade financeira”, destaca Fernanda
Guttilla, especialista em reprodução humana do Hospital Sírio-Libanês.
A análise da Fiocruz indica que no ano 2000 a fecundidade concentrava-se em mulheres mais jovens, entre 20 e 34 anos, que respondiam por 67,4% da fecundidade total. Após 20 anos, a redução da gravidez em mulheres dessa faixa etária foi para 57,8%, representando uma redução de quase 10%, o que confirma que a fecundidade no país está se tornando mais tardia.
“Os principais fatores são o aumento da escolaridade, a
melhora do nível socioeconômico da população e do acesso aos métodos
contraceptivos efetivos, como por exemplo, os métodos de longa ação e que são
reversíveis, como os DIUs hormonais ou não hormonais, os implantes
contraceptivos”, explica a médica ginecologista Natália Ramos Seixas, da
clínica de saúde feminina Oya Care.
“Uma gravidez tardia aumenta os riscos de abortamento espontâneo, de doenças hipertensivas da gravidez, como pré-eclâmpsia e eclâmpsia e de parto prematuro. Também aumenta-se muito o risco de um parto via cesariana, de cromossomopatias, sendo a mais comum a síndrome de Down, que também é conhecida como trissomia do 21, e aumenta-se exponencialmente o risco de morte materna. Então, não é banal se ter uma gravidez tardia”, afirma Natália.
Os riscos para as mulheres devem ser individualizados, afirma a médica Fernanda Guttilla.
“Existe um risco um pouco maior de hipertensão
gestacional, diabete gestacional e placenta prévia. Pela idade, a paciente
apresentar alguma comorbidade preexistente e com isso aumentar a possibilidade
de um parto prematuro. Devemos também diferenciar se é uma primeira gestação
tardia ou se mulher já teve outras gestações, pois o maior risco de alteração
placentária e hemorragia pós-parto estão principalmente relacionados ao número
de gestações anteriores”, explica.
“É indispensável a avaliação da reserva ovariana e da saúde geral da mulher para que ela seja aconselhada a congelar os seus óvulos no momento certo, que para a maioria das mulheres deve ser entre os 34 e os 36 anos, segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva. Além disso, manter uma vida saudável, alimentação equilibrada, exercícios físicos, evitar o uso de álcool, drogas e cigarro, são medidas essenciais para diminuir o risco de doenças obstétricas no futuro”, pontua a especialista.
Nesse contexto, o aconselhamento pelo ginecologista especialista em infertilidade, também conhecido como infertileuta, é relevante para que o adiamento da gravidez seja feito com segurança.
“O principal é qualidade de vida. Temos que cuidar da
nossa saúde e isso inclui saúde reprodutiva. Além disso, é importante rastrear
patologias e tratá-las antes de engravidar”, destaca Fernanda.
“É muito importante sabermos que o que envelhece são os óvulos, o útero não envelhece até onde sabemos. Caso a mulher tenha seus óvulos preservados no momento certo, ou utilize óvulos doados de uma pessoa mais jovem, idealmente até 35 anos, ela vai poder gestar com seu útero”, afirma Natália.
“A chance de engravidar diminui com a idade. Após 45 anos, realmente a chance de engravidar naturalmente é muito baixa, mas não devemos falar impossível”, complementa Fernanda.
Mulheres que congelaram óvulos podem engravidar pelas técnicas de fertilização in vitro mesmo que já estejam na menopausa. “O útero pode ser preparado com hormônios para receber o embrião”, explica Fernanda.
A especialista do Sírio-Libanês afirma ainda que nem toda
gravidez tardia é de alto risco. “Muitas gestações após os 35 anos não
apresentam nenhuma intercorrência. Não é obrigatório indicar parto cesáreo
somente pela idade. Independente da idade, a mulher pode se preparar para um
parto vaginal”, detalha. Fonte: CNN Brasil